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Motivações para Plantação de Igreja: Buscando as Razões Corretas

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Um dos elementos fundamentais do Evangelho e também um dos mais perdidos é a integridade. Com integridade queremos dizer que nele não existe fragmentação, quebra, ruptura entre o externo e o interno. Afirmamos que existe coerência entre o dizer e o fazer, o ser e o ter, entre o que se prega e o que se vive, uma vez que o Evangelho trata de nossa alma e do nosso coração.

Por ser assim, ele não está interessado apenas no que faço, mas acima de tudo porque faço o que faço. Culto sem alma, por exemplo, é algo abominável a Deus. Lei sem amor ao invés de tornar-se instrumento de vida traz morte. Mesmo nossos gestos espiritualmente mais sagrados como oração, jejum, ajuda aos pobres se dissociados de uma relação de intimidade com Deus, nada significam (Lc 18 9-14). Por isto Jesus recomendava que a esmola, o jejum, a oração fossem voltados para Deus e não para ganhar reconhecimento e aclamação públicos (Mt 6. 2-8; 16-18).

O Evangelho lida com nossas raízes motivacionais, deseja aprofundar em nosso coração a relação de amor a Deus naquilo que fazemos. O Evangelho está interessado também no como faço as coisas. A Receita Federal não se importa se você antes de pagar seu imposto, o faz com raiva, irritação e descaso conquanto você pague o que ele julga que você deva pagar, no entanto ao trazer seus dízimos e ofertas ao altar de Deus certifique-se de que seu coração o faz com alegria e prazer. Deus está mais interessado no seu coração do que na oferta em si, já que ele não precisa de seu ouro e de sua prata, mas procura pessoas que busquem um relacionamento de amor, que são os adoradores do Pai.

Fazendo estas avaliações iniciais, gostaria de aplicar estes princípios a plantação de igrejas, ainda mais porque a discussão sobre este tema tem se tornado cada vez mais popular em nossos dias. Quais são as bases motivações e teologicamente corretas para querermos plantar uma igreja e quais seriam as motivações erradas? Vamos começar pelo aspecto negativo.

  1. Motivações erradas:

1 – Auto promoção: A primeira motivação equivocada que colocaria como ponto de partida da discussão é o desejo de auto promoção, a auto-glorificação. Neste caso, a pessoa procura criar um novo projeto porque é a chance que encontra, supostamente, para alcançar respeitabilidade junto à sua convenção, presbitério ou ministério. Principalmente se “plantação de igrejas” é algo “valorizado” pelo grupo e tem reconhecimento público. Assim, busca-se uma afirmação comunitária. O desejo é de que com esta visão e atitude se alcance a reputação esperada. Alguns, diante do fracasso experimentado no ministério anterior, usem até mesmo a expressão: “vou arrebentar a boca do balão”. O ego inflado, ensimesmado, busca afirmação em coisas espirituais para justificar sua mente carnal. Desta forma, até mesmo aquilo que é mais puro e positivo torna-se maligno já que a aproximação se fez por um coração soberbo e arrogante.

2 – Resolução de conflitos: Neste caso o obreiro se dispõe a plantar igrejas porque a experiência do pastorado não foi algo positivo. Brigou, enfrentou tantas oposições, sofreu na mão de uma liderança inescrupulosa e dominadora, e por ter entrado nessas situações de disputa de poder busca agora, de forma amargurada, investir em plantação de uma nova igreja, mas tendo em si mesmo uma alma carregada de suspeita contra a igreja. Seu coração não está resolvido. É como uma pessoa que depois de ter sido rejeitada pela namorada anterior, com despeito, resolve namorar a primeira pessoa que ele achar atraente, ainda que seu coração não esteja pronto para um novo envolvimento.

Se você está querendo plantar igreja com o coração inquieto e ferido, pense outra vez. O que você precisa neste caso, não é um novo trabalho para se distrair, mas sim de um novo coração carregado de perdão e graça que vem do Pai Celestial. É necessário lidar com as penumbras e tristezas da alma, avaliar o que houve de errado, quem sabe até mesmo parar um pouco e refletir melhor que caminho tomar. Entrar numa plantação de igrejas com o coração carregado de conflito com Deus, consigo mesmo, ou com a igreja de Cristo é algo realmente arriscado. Você pode se tornar mais uma vitima de acidente de trabalho.

3 – Busca de emprego: Com a “escassez de campos” em nossos dias, e o “mercado de trabalho” concorrido, mais pastores e seminaristas tem expressado o desejo de plantar uma nova igreja. Alguns sem a mínima vocação para este tipo de projeto,

Naturalmente me sinto teologicamente confuso com a afirmação inicial deste tópico, ao dizer que existe uma escassez de campos. Esta não é a realidade estatística, nem a visão das agências missionárias, nem o que nos diz as Escrituras: Existem cerca de 4 bilhões de pessoas hoje no mundo completamente alienadas da mensagem do Evangelho e da cruz. No Nordeste de nosso país, centenas de cidades pequenas e de médio porte tem menos de 1% de evangélicos. Além do mais, Jesus tinha uma visão completamente diferente desta afirmação, já que para ele, os campos estavam brancos para a ceifa (Jo 4.35), e pediu que na nossa “agenda” de oração rogássemos ao Senhor da seara que mandasse trabalhadores uma vez que “a seara é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10.2). Obviamente deve existir um problema ou de semântica ou de conceituação em nossa deformada hermenêutica, quando afirmamos que os campos estão escassos. Na verdade não “faltam campos” mas, ainda hoje, faltam obreiros. Apesar de determinadas situações esdrúxulas presentes nos meios eclesiásticos. Ouvi recentemente que na Igreja Presbiteriana do Brasil existem cerca de 600 pastores procurando campo, mas apenas 200 campos disponíveis. Soube que numa grande denominação batista de nosso país a situação também não tem sido diferente. Recentemente um colega me procurou querendo plantar uma igreja, ele é uma pessoa educada, fina, bem relacionada que queria iniciar o projeto de plantação de uma nova igreja, já que nenhuma igreja de sua cidade o procurava para ser pastor. Depois de poucos minutos ele admitiu que na verdade nem ele nem sua família estavam preparados para um projeto de tal envergadura. Reconheceu ainda que era uma tentativa de “encontrar um campo”, onde o presbitério pudesse reconhecer seu ministério e gerasse subsídio financeiro para sustentar sua família, o que é na verdade um desejo legítimo de um pai de família que sente o dever de prover recursos financeiros para seu lar. Contudo, definitivamente, plantar igreja por falta de opção é uma equivocada motivação que precisa ser avaliada em nosso coração.

Presbitérios lamentavelmente têm contribuído para que isto aconteça. Quando um pastor não encontra campo na área jurisdicionada por este concílio, e por razões familiares ou de conveniência pessoal não se disponibiliza ou não pode buscar campos em áreas mais distantes, complacente e irresponsavelmente resolve abrir uma nova congregação e enviar tal obreiro para o campo. Isto redunda num fracasso seqüencial já bem conhecido em nosso meio, que cria uma cadeia de relações e comandos que se torna mórbida: Envia-se ao pior campo, o pior obreiro, dando o pior salário para se plantar a pior igreja. Esta situação realmente é catastrófica.

Após ministrar num módulo de pós-graduação, um pastor que participava do curso me procurou com um sério dilema: Fora enviado para iniciar uma nova igreja num bairro jurisdicionado ao seu Presbitério. O Concilio lhe pagava o salário integral, mas depois de um ano e meio ele estava estressado, desencorajado e com um sentimento horrível de inadequação no que estava fazendo. Na verdade, queria saber que estratégias poderiam ser mais úteis e aplicáveis no seu contexto para implementar o ministério. Havia um sentimento de cansaço e frustração no seu olhar e na sua voz.

A primeira pergunta que lhe fiz trouxe a tona toda conflitividade que ele estava experimentando. Eu perguntei se ele gostava do que fazia, se ele se sentia o homem certo, na hora certa, no lugar certo, fazendo as coisas pela motivação certa, e ele me respondeu com uma honestidade e transparência surpreendente: “Detesto o que faço, nunca quis plantar igrejas, amava meu ministério anterior no qual eu era pastor auxiliar, mas quando minha igreja se dividiu por problemas doutrinários, o Presbitério dissolveu o Conselho e não tendo nenhum campo para me designar, me enviou para plantar igrejas”.

Quando não estamos fazendo aquilo para o qual fomos chamados, nem de acordo com nossos dons, aumentamos a frustração em nosso coração e criamos um forte senso de inadequação interior. Isto pode acontecer quando, por falta de oportunidades em outras áreas ministeriais resolvemos plantar igreja sem termos paixão, habilidade, chamado e dons adequados para este ministério.

  1. Motivações corretas:

1 – A Glória de Deus: Se é certo dizer que a primeira motivação errada é auto promoção, também é correto dizer que a primeira e fundamental razão para se plantar igrejas deve ser o desejo de que Deus seja glorificado por e através desta igreja. Tudo é uma questão de foco. Na auto-glorificação, o homem assume o centro e é promovido. Aqui, o Senhor da igreja, que morreu por ela e deseja edificá-la, torna-se o centro.

Redford, que escreveu interessante livro sobre plantação de igrejas, afirma que existem quatro fundamentos bíblicos para plantação de novas igrejas:

1.1. O Espírito Santo é a base de tudo o que é feito em plantação de igrejas;
1.2. A Bíblia é o fundamento para a plantação de igrejas;
1.3. Devemos manter a nota da redenção em tudo que fazemos ao plantarmos uma igreja;
1.4. Pessoas são a base da plantação e novas igrejas.

2 – Por entendermos que, a igreja, é a mais eficiente forma de Evangelização: Neste caso, a motivação é que os perdidos sejam salvos, os cativos libertos e os cegos vejam.

Alguns tempo atrás falávamos de plantação de igrejas numa reunião de pastores e presbíteros, quando um líder levantou opondo-se ao projeto e afirmando solenemente: “Não precisamos plantar novas igrejas, precisamos é de mais projetos sociais na cidade”. Obviamente entendo a preocupação salutar com os pobres e necessitados, mas creio que lhe faltava uma compreensão mais abrangente do quadro: Todo projeto social é criado a partir da visão de um ou mais membros de uma igreja local, e o sustento advém do esforço destes irmãos. Igrejas saudáveis sempre terão compromisso com o pobre e com o que sofre, buscando estratégias e recursos para a gestão e realização de tais projetos. Novas igrejas trazem sinais de Reino de Deus na cidade, porque quando a igreja de Cristo está presente, isto gera regozijo no meio da comunidade (At 8.8).

Ao plantar uma igreja considere sempre as oportunidades que Deus abre para colocar os olhos num grupo específico de pessoas que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda (Jonas 4.11), que estão presos nas superstições espirituais, e em conceitos alienados de Deus e que poderão ser alcançados por meio desta nova comunidade e pelo testemunho vibrante do Evangelho desta nova igreja que nasce no coração de Deus. Novas igrejas são mais eficientes no alcance dos perdidos. Considere isto ao desejar plantar uma nova igreja. Elas criam oportunidades para que os perdidos sejam alcançados, nutridos e enviados.

Redford, Jack – Planting New Churches, Broadman Press, 1978 Nashville, Tennessee. 2 . Wagner, Peter afirma: “Por vários anos ensinei crescimento de igreja no Seminário Fuller. Descobri que plantar novas igrejas é o método evangelístico mais eficaz debaixo do céu”. Em, Plantar igrejas para a grande colheita, São Paulo, abba Press, 1993, pg. 17

McGravan, um dos escritores contemporâneos mais respeitados sobre a questão do crescimento da igreja afirma que os servos de Deus devem “conceber um plano inteligente para a implantação de igrejas que se encaixe em sua população que seja similar a planos que multiplicaram igrejas em outras populações semelhantes e que possa ser desenvolvido com os recursos que Deus colocou em suas mãos”.

3 – Para que a Cidade seja impactada pela presença da Igreja – Igreja não é um clube social, nem um grupo de pessoas em transe esperando o próximo trem para o céu. Ela não existe para si mesma, mas para realizar a obra para a qual Deus a designou.

Nenhuma igreja pode perder o seu foco missiológico. Por isto, antes de iniciar um projeto deveríamos perguntar se esta igreja seria relevante para o Reino de Deus naquele lugar. Igreja é a expressão visível do corpo de Cristo e existe para missionar. Sair de si mesma tem que ser um alvo natural e a razão de sua existência.

Criar uma filosofia de ministério para a igreja local torna-se necessário para que nunca nos esqueçamos para quem e porque existimos, e nunca se perca o foco original com o passar do tempo. A filosofia de ministério vai nos fazer lembrar da razão básica de nossa existência. Sua presença salvífica e abençoadora deve ser motivo fundante de sua existência, e deve estar sempre claro nas pessoas que se relacionam com esta comunidade.

A Igreja é chamada para existir em função de sua realidade histórica, e naquele local onde será inserida, procurando dar sinais do Reino de Deus. O lema “pense globalmente e aja localmente” precisa ser constantemente lembrado em nossos corações.

Antes de iniciar o projeto propriamente dito, seria bom que o grupo que deseja plantar tal comunidade tivesse se lembrando do sentido de sua existência. Seria bom também que elaborasse um conceito, ainda que simples, de missão.

Gosto de pensar no termo “missão”, como todo projeto que vá além de suas paredes, ainda que saibamos que todo e qualquer esforço interno, deve ser para preparar obreiros para a seara do Senhor. “Olhar para fora” é exatamente o que dá sentido e razão de existirmos. A cidade ou bairro, antes de qualquer outro lugar, deve ser o foco de nosso coração e de nossa missão. Ao plantarmos uma igreja deveríamos perguntar como esta igreja poderia ser abençoadora e relevante no local onde será estabelecida.

4 – Paixão Interna – Isto tem a ver com a compreensão do próprio coração. Uma das grandes e corretas motivações deve ser o fato de que existe um dinamismo interior, gerado pelo Espírito Santo, que me leva a apaixonar por esta idéia, de tal forma que torna-se quase uma obsessão nos sonhos de minha alma.

Quando existe fogo interno, as dificuldades se relativizam, porque o que está por detrás de tudo isto é a vontade de Deus e o chamado que ele tem para nossa vida. Minha esposa costuma sempre afirmar, quando estamos pensando em nos lançarmos num novo ministério, ou quando amigos pessoais nos falam sobre suas crises de transição: “O ponto a ser considerado não é quem virá e nem para onde iremos, mas se Deus é quem nos está dirigindo”. Donald McGravan – Compreendendo o crescimento da igreja, São Paulo, Edit Sepal, 2001, pg 403.

O chamado para plantação de igrejas pode ser uma estratégia que Deus coloca em nossos corações e que nos faz consumir com tal pensamento. Por isto, é necessário que o fogo de Deus acenda mais fortemente em nossos corações. Que sejamos consumidos por tal idéia. Antes de decidirmos que vamos plantar uma nova igreja, deveríamos confirmar nosso chamado, checando suas motivações, para a referida tarefa.

Rev Samuel Vieira
Pastor da Igreja Presbiteriana de Anápolis-Go

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